Apesar do nome varíola do macaco ser atualmente usado em todas as mídias para se referir ao novo surto atual desta doença, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está trabalhando para mudar o seu nome e tipos. Tais mudanças foram sugeridas por especialistas, pois a atual nomenclatura é imprecisa, discriminatória e estigmatizante. Portanto, ao longo deste texto, a denominação “varíola símia” para ficar conforme a nova denominação.
A varíola símia é um membro do grupo dos Orthopoxvirus. Os poxvírus também incluem os vírus humanos varíola (“smallpox”) (gênero Orthopoxvirus) e molluscum cantagiosum (gênero Molluscipoxvirus), bem como outros vírus que naturalmente infectam animais, mas podem causar infecção incidental em humanos (zoonose), como no caso da varíola símia.
A distribuição e os fatores determinantes da varíola símia na população mundial
A varíola símia é uma zoonose viral endêmica em certas partes da África, particularmente em áreas próximas às florestas tropicais.
A varíola símia foi descoberta pela primeira vez em macacos mantidos para pesquisa de laboratório em 1958, e desta maneira recebeu este nome. No entanto, os roedores são os principais portadores dessa doença na natureza. O primeiro caso humano da varíola símia foi detectado em 1970 na República Democrática do Congo em um menino de 9 meses, em uma região onde a varíola havia sido eliminada em 1968. Desde então, a maioria dos casos foi relatada em regiões rurais de florestas tropicais da Bacia do Congo, particularmente na República Democrática do Congo, e casos humanos têm sido cada vez mais relatados em toda a África Central e Ocidental.
Alguns casos também chegaram a outros continentes no passado, trazidos por viajantes ou pela importação de animais exóticos, que passaram o vírus para animais de estimação, e depois para seus donos.
Em 2003, um grande surto da varíola símia, ligado a roedores importados, ocorreu nas cidades americanas de Illinois, Indiana e Wisconsin. Nos últimos 5 anos, ocorreram surtos em centros mais densamente povoados, aumentando a preocupação com a disseminação global.
Como a varíola símia se multiplica no hospedeiro?
O vírus da varíola símia é um vírus de DNA, e todo o ciclo de sua multiplicação ocorre dentro das células do hospedeiro. O vírus da varíola símia produz muitas proteínas que facilitam sua multiplicação, assim como ajudam o vírus a escapar do controle imunológico. No entanto, o sistema imune dos hospedeiros (no caso, humanos) é essencial para impedir a reprodução do vírus.
Atualmente, os cientistas estão tentando entender se o grau de infecção, gravidade ou outras características do vírus mudaram com base nas sequências genéticas coletadas de alguns pacientes.
Quais são os sintomas e formas de contágios da varíola símia?
A varíola símia é geralmente uma doença autolimitada com sintomas que duram de 2 a 4 semanas, e geralmente desaparecem por conta própria ou com cuidados de suporte, como medicação para dor ou febre.
O período de incubação (intervalo desde a infecção até o início dos sintomas) da varíola símia é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
A infecção pode ser dividida em dois períodos
O período de invasão (até 5 dias após a infecção) é caracterizado por febre, dor de cabeça intensa, inchaço dos gânglios linfáticos, dor nas costas, dores musculares e intensa falta de energia. O inchaço dos gânglios é uma característica distintiva da varíola símia em comparação com outras doenças que podem inicialmente parecer semelhantes (varicela, sarampo, varíola).
A erupção cutânea geralmente começa dentro de 1 a 3 dias após o aparecimento da febre e tem como característica manchas avermelhadas e planas na pele. A erupção tende a ser mais concentrada na face e extremidades do que no tronco. Afeta a face (em 95% dos casos), palmas das mãos e plantas dos pés (em 75% dos casos). Também são afetadas as mucosas orais (em 70% dos casos), virilha, regiões genitais e/ou anais do corpo (30%) e conjuntiva (20%), bem como a córnea.
Na segunda fase da doença, a erupção evolui sequencialmente de lesões com base plana para lesões firmes levemente elevadas. Essas lesões são preenchidas com líquido claro que evoluem para lesões cheias de líquido amarelado. Por fim, formam crostas que secam e caem. As lesões podem variar em quantidade a depender da gravidade da infecção.
Casos graves ocorrem mais comumente entre crianças e estão relacionados à extensão da exposição ao vírus, estado de saúde do paciente e natureza das complicações. As deficiências imunológicas podem levar a resultados piores. As complicações da varíola símia podem incluir infecções secundárias, broncopneumonia, sepse, encefalite e infecção da córnea com consequente perda de visão.
Transmissão
A transmissão de animal para humano (zoonótica) pode ocorrer por contato direto com sangue, fluidos corporais ou lesões cutâneas, ou mucosas de animais infectados.
Na África, evidências de infecção pelo vírus da varíola símia foram encontradas em muitos animais, incluindo esquilos de árvore, ratos gambianos, diferentes espécies de macacos e outros. As pessoas que vivem em ou perto de áreas florestais podem ter exposição indireta, ou de baixo nível a animais infectados.
A transmissão também pode ocorrer através da placenta da mãe para o feto (o que pode levar à varíola congênita) ou no contato próximo durante e após o nascimento.
Sabendo que o contato físico próximo é um fator de risco bem conhecido para a transmissão, a varíola símia também pode ser transmitida por meio de fluidos orais durante o contato sexual íntimo (beijo; sexo oral, anal ou vaginal). O contato com tecidos, objetos ou superfícies contaminadas com o vírus da varíola dos macacos (como roupas, roupas de cama ou toalhas) também pode espalhar a infecção.
Como é realizado o diagnóstico da varíola símia?
O diagnóstico diferencial clínico deve ser considerado a fim de excluir a possibilidade de outras doenças que causam erupção avermelhada na pele, como varicela, sarampo, infecções bacterianas da pele, sarna, sífilis e alergias associadas a medicamentos.
A reação em cadeia da polimerase (PCR) é o teste de laboratório preferencial devido à sua precisão e sensibilidade. As amostras diagnósticas ideais são de lesões de pele, fluido das vesículas e pústulas e crostas secas. As amostras de lesão devem ser armazenadas em um tubo seco e estéril e mantidas frias.
Tratamentos e prevenção da varíola símia
A varíola é geralmente autolimitada, ou seja, pode ser curada com o tempo e sem necessidade de tratamento específico. No entanto, ela pode ser grave em alguns indivíduos, como crianças, mulheres grávidas ou pessoas com imunossupressão devido a outras condições de saúde.
A descrição da conduta ideal deve ser feita a partir do aconselhamento médico, considerando a gravidade dos sintomas e a presença de fatores de risco.
Diferindo a varíola símia da pandemia da Covid-19
No momento, o surto de varíola símia está restrito, principalmente, em homens adultos, que conseguem combater naturalmente o vírus na maioria dos casos. No entanto, se o vírus atingir grandes populações de crianças ou idosos, as perspectivas podem mudar rapidamente.
O controle desse crescente surto internacional exige a divulgação de informações sobre a origem da doença, sintomas, diagnósticos (principalmente sobre testes de diagnóstico apropriados) e tratamentos para as comunidades.
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